O inquestionável sucesso do veículo-robô Curiosity, da
Nasa, abriu o caminho para a conquista de Marte pelos seres humanos,
afirmam cientistas, às vésperas do aniversário de um ano da chegada da
sonda ao planeta vermelho.
Desde seu bem sucedido pouso na superfície marciana em 6
de agosto de 2012, a sonda coletou e enviou para os pesquisadores na
Terra uma verdadeira arca do tesouro de informações, que espera-se, seja
vital quando uma missão tripulada a Marte for levada a cabo.
Com o tamanho aproximado de um veículo 4x4 e pesando
cerca de uma tonelada, a Curiosity conseguiu concluir uma das mais
importantes tarefas de sua missão: estabelecer, sem sombra de dúvida,
que o ambiente marciano foi capaz de abrigar vida microscópica em um
passado distante.
Essa façanha, conseguida em março, significa que a
missão do veículo-robô provavelmente será estendida para além do período
provisório de dois anos.
"Os êxitos da nossa Curiosity - aquele pouso dramático
um ano atrás e as descobertas científicas desde então - nos fazem
avançar para novas explorações, inclusive com o envio de humanos para um
asteroide e para Marte", disse o administrador da agência espacial
americana (Nasa), Charles Bolden. "As marcas de pneus vão abrir o
caminho para as marcas de botas no futuro", emendou.
A emocionante amartissagem da Curiosity no ano passado -
quando o robô de seis rodas pousou na Cratera Gale, a cerca de 10
quilômetros da base do monte Sharp, com 5 mil metros de altitude -
também deu uma dose extra de coragem para aqueles que esperam um dia
planejar uma bem sucedida missão tripulada.
A natureza complexa do pouso demonstrou que é possível
transportar com sucesso cargas maiores até o planeta - algo que é visto
como um dos maiores desafios tecnológicos de uma missão tripulada.
"Até agora estamos extremamente satisfeitos este ano",
afirmou Michael Meyer, cientista-chefe do Programa de Exploração Marte
da Nasa. "Em termos de contribuição para a exploração em geral, é um
avanço fantástico porque o sistema é novo. É uma forma de chegarmos à
superfície planetária. Colocamos uma tonelada na superfície" de Marte,
emendou.Quanto mais aprendermos sobre Marte, mais informados
estaremos para enviar humanos no futuro", acrescentou. Desde a sua
chegada a Marte, Curiosity forneceu mais de 190 gigabites de dados - o
equivalente a cerca de 45.600 músicas armazenadas em arquivos de MP3 - e
enviou à Terra cerca de 36.700 imagens completas e 35.000 em miniatura.
O robô também disparou mais de 75 mil jatos de laser
para investigar a composição da superfície marciana, além de ter
coletado e analisado amostras de duas rochas. Os instrumentos e as
câmeras da Curiosity permitiram ao robô determinar rapidamente a questão
de se Marte pôde abrigar vida microbiana, disse Meyer.
Logo após o pouso, a Curiosity detectou grupos de seixos
e cascalhos formados pelo fluxo de água em um antigo leito de rio. A
análise de rochas na região determinou estão que a água que no passado
fluiu não era salgada ou ácida demais para impedir a existência de vida.
O veículo rodou mais de 1,6 km e agora dirige-se ao
Monte Sharp, onde a Nasa espera que forneça mais pistas sobre a
composição do planeta vermelho. Os cientistas esperam que a análise de
camadas sedimentares permita determinar quando Marte pode ter sido capaz
de abrigar a vida.
"Se descobrir que ambientes múltiplos foram habitáveis,
isto aumenta a probabilidade de existência de vida em Marte", disse John
Logsdon, ex-diretor do Instituto de Política Espacial e membro do
comitê consultivo da Nasa.
"A missão foi singularmente bem sucedida. Está ampliando
os limites, tanto técnicos quanto de habilidades humanas, e é algo de
que todos deveriam se orgulhar", acrescentou. Enquanto isso, Meyer
expressou otimismo de que a Curiosity possa inclusive detectar sinais
mais definitivos de vida durante o próximo ano.
"Curiosity poderia fazer uma grande descoberta, tem
muita sorte", brincou. "Os instrumentos são selecionados especificamente
para determinar se em uma certa época no passado Marte foi capaz de
abrigar vida ou não", explicou.
"É capaz de medir (matéria) orgânica, portanto, se
houver uma assinatura significativa de vida do passado, pode ser capaz
de desvendá-la", emendou.
"No entanto, qualquer confirmação de vida passada ou até
mesmo de vida atual vai exigir outra missão", disse Meyer, destacando
que a Nasa planeja enviar um segundo veículo-robô a Marte - "Curiosity
2" - em 2020. Enquanto isso, o robô euro-russo ExoMars, um veículo que
também buscará bioassinaturas de vida marciana, tem lançamento previsto
para 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário